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Poesia, cordel e cultura periférica foram os destaques da tarde de sábado (04) no palco da Arena Multivozes

Por Thaís Siqueira (SECULT)
04/12/2021 20h42 - Atualizada em em 05/12/2021 10h49

A arena foi tomada por poesia no penúltimo dia da 24ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes. A tarde movimentada na Arena Guilherme Paraense teve início com o IX Encontro dos Cordelistas, que teve como tema "Literatura de Cordel: a essência da poesia na Amazônia". Zeca Pereira, escritor de cordel da Bahia e representante da Nordestina Editora, foi quem presidiu a mesa - composta ainda por Antônio Juraci Siqueira, João de Castro, Heliana Barriga e Socorro Rebouças. 

Para além das muitas regras estilísticas de cordel, reconhecidas e levadas a ferro e fogo pelos representantes do gênero no debate, o principal assunto entre os poetas foi a importância de perpetuar este formato peculiar de literatura. Seja por meio da valorização dos escritores, seja pelo despertar de interesse para novos adeptos, os cordelistas estão empenhados em levar a palavra rimada mais longe. "Estamos organizados. Só precisamos ser valorizados", sentenciou João de Castro, arrancando aplausos da plateia.

Zeca Pereira, editor baiano convidado para mediar a conversa, reforçou que a tradição do Nordeste não significa uma restrição. "O cordel não é só nordestino, ele está no Brasil inteiro. As pessoas acham que cordel é só falar de seca, de fome. Não é isso. Essa falta de informação não é culpa das pessoas, mas precisamos aproveitar esses momentos para esclarecer o que é o cordel e abrir as portas para outras variações", argumentou o autor.

 Entre os caminhos para atrair novos leitores e escritores, Zeca destacou o subgênero cordel de terror, que tem feito sucesso nas escolas. "É um jeito de estar com as novas gerações. Cordel é resistência. Se você não persistir, as coisas não acontecem. E na arte não é diferente. Estamos unidos e lutando em favor da nossa classe".

Ponto alto do Encontro na Arena Multivozes, a declamação de poemas de cordel cativou o público da Feira, abordando temas que variaram de respeito às diferenças até exaltações da cultura paraense. Em seguida, os cordelistas homenagearam o saudoso poeta Cláudio Cardoso, autor e entusiasta das obras de cordel. "O pessoal via o Cláudio declamando e ficava maravilhado. Vamos nos empenhar para que todo o empenho dele não se perca, para que todos os cordelistas tenham respeito", emocionou-se Francisco Mendes, presidente da Academia Paraense de Literatura de Cordel - da qual Cláudio foi criador e onde agora é imortal.

PoAme-se

Às 16h, foi a vez da juventude periférica no palco da Arena. O Papo Cabeça trouxe Natasha Angel ao centro da Feira para debater o tema "PoAme-se: Amor, Liberdade e Poesia Afro-indígena". A mediação ficou por conta da jornalista Amanda Campelo. Natasha, de 20 anos, é coordenadora do PoAme-se, grupo de trabalho vinculado ao projeto CineClube TF, que nasceu na Terra Firme em 2018 e se espalhou por outros bairros da periferia de Belém.

 No coletivo, os jovens discutem e criam poesia preta e literatura afro, indígena e ribeirinha. "A poesia me deu a vida de volta. Hoje eu vivo e sou poesia", afirma a jovem escritora, vencedora de diversos concursos de poesia. "A gente atua em outras escolas e bairros para além da Terra Firme, levando a poesia preta e periférica para dentro dos espaços que não nos foram dados".

Natasha contou ao público que o grupo nasceu só com mulheres, mesmo não sendo um critério específico. "As meninas da periferia são as que mais sofrem opressões e traumas, então elas vinham para tentar ressignificar essas dores em poesia. É um mecanismo de libertação, física e mental. A gente foi moldada para silenciar, para não conseguir falar. Eu dizia que era tímida, mas era silenciada. Eu não tinha oportunidade nem espaço", analisou. 

CineClube TF 

Uma intervenção artística dos jovens do CineClube TF encerrou as atividades no palco, trazendo música e valorização da periferia. Dona Ereana veio com a neta, Ana Sophia, e aproveitou para conferir a programação. 

"É a primeira vez que eu venho. Está sendo uma experiência interessante e cheia de aprendizado. A gente veio lá do Jurunas com uma expectativa enorme, principalmente pela pandemia e por tanto tempo em casa. Estamos adorando". 

Serviço:

A 24ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes acontece até domingo (05), de 9h às 21h, na Arena Guilherme Paraense, o Mangueirinho.  

Texto: Camila Barbalho (FCP)