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A beleza do artesanato da região de Tohoku, no Japão, chega a Belém

Programação, que será iniciada a partir do próximo dia 23 de março, também contará com a oferta de oficina e uma palestra
Por Thaís Siqueira (SECULT)
21/03/2022 15h57

Utensílios e artefatos do cotidiano feitos artesanalmente fazem parte da Exposição Itinerante “A beleza do artesanato de Tohoku - Japão”, concebida para marcar o Grande Terremoto e Tsunami ocorridos em 11 de março de 2011 na região nordeste do Japão, e que estará à mostra a partir do próximo dia 23 de março no Museu de Arte Sacra, em Belém. 

O Consulado do Japão em Belém e a Fundação Japão, em parceria com o Governo do Estado do Pará por meio do Sistema Integrado de Museus e Memoriais (SIMM) e Museu de Arte Sacra (MAS) trazem para a cidade a exposição com o objetivo de conhecer e reconhecer o distinto apelo das artes e artesanato de Tohoku, que engloba seis províncias: Aomori, Akita, Iwate, Miyagi, Yamagata e Fukushima. 

São 70 obras de diversos gêneros como cerâmica, laca, têxtil, obras feitas em metal, madeira e bambu entre outros, que estão viajando pelo Brasil e já foram expostas nas cidades do Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília e Manaus e, após Belém, viajarão para Recife, onde se encerrará a mostra. 

A arte e a maestria dessas peças nos ajudam a valorizar ainda mais a sabedoria popular existente no cotidiano em proximidade da natureza e as habilidades e destrezas manuais resultantes dessa sabedoria na região de Tohoku.

O cônsul principal do Japão em Belém, Satoshi Morita, agradece a parceria com a Fundação Japão e o Governo do Estado para a realização dessa e.

“Após esse longo período de restrições devido a pandemia, que trouxe uma série de mudança nos hábitos e na vida da população, é com grande satisfação que realizamos esta exposição, para a qual convidamos todos para que a prestigiem, lembrando que “essa região do nordeste do Japão é conhecida por suas belas paisagens montanhosas e marítimas e possui uma cultura riquíssima, que poderá ser conhecida através dessas obras de diversos gêneros do cotidiano”, comenta.

Movimento Mingei
A preservação, até os dias de hoje, da linda arte popular de Tohoku que permite apreciar a “Beleza do Útil” representada nas obras expostas, deve-se ao Movimento MINGEI, um movimento que surgiu no Japão em 1926.

Artistas como Kanjiro Kawai, Shoji Hamada, Keisuke Serizawa e Shiko Munakata se envolveram profundamente no Movimento Mingei liderado por Soetsu Yanagi. De acordo com Yanagi, o artesanato popular criado por artesãos desconhecidos possui uma beleza oculta e o objetivo do Movimento era descobrir e apreciar essa beleza. 

Cestos trançados
No Japão existem vários tipos de cestos, caixas e equipamentos agrícolas feitos de cascas de árvores e videiras. Usando bambu, ramos da parreira e akebi (Akebia quinata), moradores das regiões nevadas de Tohoku participam da prática sazonal de trançar cestos e caixas, recipientes extremamente funcionais para o dia a dia, durante o período de inverno.

Cerâmica
O Japão foi agraciado com uma rica cultura de cerâmica, caracterizada por inúmeros tipos de materiais e fornos espalhados de norte ao sul. Embora a região de Tohoku tenha relativamente menos locais de produção e fornos quando comparada ao resto do país, essa é uma região que possui cerâmicas singulares e de usos especiais. Os exemplares desta mostra vão desde obras antigas, assadas em fornos estabelecidos no período Edo, até trabalhos originais criados por artistas mais recentes. 

Bordados
Kogin é um tipo de ponto de bordado passado de geração em geração no distrito de Tsugaru, província de Aomori. Originalmente Kogin era o nome dado para as roupas de trabalho daquela região. Basicamente, trata-se de um tecido de cânhamo (espécie de arbusto), tingido de índigo e reforçado com pespontos de algodão branco. Durante o período Edo, foram editadas leis suntuárias dirigidas a camponeses e agricultores, que lhe permitiam usar apenas quimonos de cânhamo e não de algodão. Porém, os quimonos feitos de fibras cruas de cânhamo não eram adequados aos invernos rigorosos de Tohoku. Assim, os fios de algodão se tornaram disponíveis e agricultores locais passaram a reforçar os tecidos de cânhamo com pontos densos, que o protegiam do frio inclemente.

Tingimento/tecelagem
Embora o número de técnicas de tingimento e tecelagem em Tohoku seja limitado em comparação com locais mais desenvolvidos da indústria têxtil japonesa como Quioto, a cultura de tecelagem de Tohoku é única. O tecido Akita Hachijo (seda com tingimento natural) da província de Akita e as técnicas de tingimento artesanal Tsuru-gaki da província de Fukushima – ambos presentes nesta exposição – são exclusivas da região de Tohoku.

Casca de madeira
A técnica aplicada na casca de madeira é conhecida pela beleza das superfícies lisas e pelo aroma natural do cedro de Akita, que é extremamente resistente. Kaba-zaiku é um produto famoso de Katsunodate na província de Akita, onde a casca das cerejeiras das áreas montanhosas é aplicada a um substrato de madeira chamado Mokutai.

Fundição
Há tempos, a região de Tohoku é conhecida especialmente pelas fundições em metal, representadas por bules e sinos de vento, feitos de ferro e conhecidos como Nambu-tekki (utensílios de ferro Nambu) e Yamagata-imono (fundição Yamagata). O nome Nambu vem do poderoso clã de samurais da região de Nambu, em Tohoku, que comandou o local durante o período Edo. O estilo Arare-gama, ao qual pertencem as chaleiras de ferro fundido tem esse nome por causa do padrão simétrico formado por saliências que lembram Arare (pedra de granizo). 

Pintura
A boneca Kokeshi, as pipas, os bonecos ritualísticos e as velas decoradas (E-rosoku) são produtos únicos da região de Tohoku. Não apenas pelo seu formato, mas também pelas pinturas decorativas – como a pintura da deusa da beleza (Kisshoten) na pipa – que servem como motivos auspiciosos que exprimem orações pela segurança, felicidade e prosperidade das pessoas.

Laca
Peças e utensílios laqueados são produzidos em toda a Ásia desde a Antiguidade e alguns continuam sendo produzidos até os dias de hoje. Na era moderna, no entanto, o trabalho refinado com laca tornou-se uma arte tão associada ao Japão que passou a ser chamado de “Japan” em todo o mundo. As peças laqueadas Joboji foram feitas em Joboji, local conhecido pela produção de “laca bruta” em Tohoku. A região preservou e passou para as gerações seguintes um método tradicional de coletar a seiva da laca, conhecido como “Urushi-kaki”, de forma a não danificar as árvores ancestrais.

Palestra “Japão: Entre Arte e Artesania”
No dia 24 de março, a partir das 16h, como parte das programações paralela à Exposição, será proferida uma palestra pelo professor Dr. Afonso Medeiros. Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), atualmente professor titular de Estética e História da Arte do ICA/UFPA, Afonso pesquisou a arte japonesa em seu curso de especialização em História da Arte pelo Teacher’s Training Program e no mestrado em Ciência da Educação/Arte-educação na Universidade de Shizuoka – Japão, ambos por meio das bolsas de estudo MEXT (Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia) do Governo do Japão.

Serviço:
EXPOSIÇÃO “A BELEZA DO ARTESANATO DE TOHOKU – JAPÃO”
  Onde: Museu de Arte Sacra (Praça Frei Brandão, s/n - Cidade Velha, Belém-PA)
  Quando: 23 de março a 24 de abril de 2022
  Horário de visitação: De Terça-feira a Domingo, de 9h às 17h

PROGRAMAÇÃO PARALELA: 
PALESTRA “Japão: Entre Arte e Artesania” por Prof. Dr. Afonso Medeiros
 Quando: 24 de março, às 16h
OFICINA “Artesanato e Origami” por Prof.ª Rosa Kamada
 Quando: 26 de março, às 10h 

Agendamento para escolas:
Cel: 91-4009-8695 ou e-mail: simm.educacao@gmail.com

Texto com informações da Ascom do Consulado Japão em Belém